quinta-feira, 7 de julho de 2011

Para Aquecer o Coração


Para aquecer o coração, coisa difícil com o frio que está fazendo nos últimos dias, vou apresentar algumas histórias que escrevi para o jornal Econews.
São histórias reais, contadas pelos usuários do transporte público, e representam lições de vida, revelam sentimentos, nos aproximam como seres humanos, com as mesmas fragilidades e dúvidas.
Por outro lado, mostra a força e a capacidade de superação de pessoas simples, desconhecidas da grande maioria, verdadeiros super heróis na arte de viver.
Uma boa leitura!

Duas mulheres e um coração





Nascidas em Levinópolis, uma pequena cidade, à beira do rio São Francisco, em Minas Gerais, as gêmeas Maria e Ana Rodrigues Nunes, de 64 anos, tem uma história de vida que facilmente poderia se transformar em tema de novela.
Apesar de serem batizadas com nomes de Maria e Ana, as duas são chamadas pelos amigos de Rosa – Rosa 1 e Rosa 2. As semelhanças estão além da aparência e do nome. Elas se fundem em uma só pessoa, em um só coração e adoram isso.
“Somos duas em uma. Ela não precisa falar porque sei o que está pensando. É um amor muito lindo”, explica Ana.
Só dá para notar a diferença entre as duas mulheres olhando nos olhos, o espelho da alma. Maria teve uma vida muito difícil e, apesar de tentar apagar a lembrança com o sorriso, às imagens ficaram guardadas e estão ao alcance de quem pede licença para se aproximar.
Já Ana teve melhor sorte. Sofreu, é verdade, mas o destino foi generoso com ela. E isso também é percebido no seu olhar quase infantil, sua risada, o jeito carinhoso e desprevenido com que trata as pessoas.
Quando nasceram, Ana e Maria foram separadas pela mãe que não tinha condições de criá-las. Ana ficou morando com a avó e achava que era tia de Maria, tia Lilia como era chamada. A revelação ocorreu quando ambas tinham 10 anos, no leito de morte do seu pai.
Nesse mesmo dia, Maria ouviu a sentença que mudaria para sempre a sua vida. – Filha, a partir de hoje eu coloco o futuro da nossa família em suas mãos.
Depois disso, poucos dias se passaram... quando um tio convidou Maria para ser dama de companhia de sua esposa e ir com eles morar em São Paulo.
Ao chegar à cidade da garoa, um ano após a morte de Getúlio Vargas, a menina de 11 anos conheceu a maldade e passou fome. Em 1969, solteira, teve uma filha com um homem branco e sentiu o que é ser discriminada. Sofreu muito, passou o pão que o diabo amassou.
Nessa cidade, também começou uma longa vida no alcoolismo da qual só conseguiu se livrar muitos anos depois.
Ana, com 16 anos, foi para São Paulo se juntar à irmã. Durante 36 anos, as duas trabalharam como doméstica na cada da mesma família, que passava as férias de verão no bairro de Barequeçaba, em São Sebastião, o que contribuiu para que viessem morar na cidade.
Em 1985, Maria deu uma virada na vida ao conseguir se livrar do vício do álcool, semi-analfabeta voltou a estudar e, junto com o seu filho, recebeu o diploma de conclusão do terceiro colegial.
Juntas construíram uma família muito unida e vitoriosa. Apesar de nenhuma das duas terem se casado, geraram dois filhos, criaram outras duas meninas e tem quatro netos. O filho hoje está na faculdade de direito, a filha é enfermeira e a neta mais velha estuda para ser administradora de empresas.
Enquanto isso, essas pequenas notáveis moram em uma casinha simples no bairro de Barequeçaba, onde costumam aguardar o ônibus da Ecobus. Já aposentadas, elas tem um quiosque na praia e adoram conversar com as pessoas que se aproximam. “Nós aceitamos a realidade da vida e não esquecemos o passado", contam.

Se você utiliza os ônibus da empresa Ecobus e tem alguma história inusitada que gostaria de ver publicada no jornal, entre em contato pelo e-mail: dani.outi@uol.com.br, ligue para 0800 77 10 507, sua linha direta com o transporte.