quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O sol que aquece a minha alma


Corri o mais rápido que pude, sem olhar para trás. Já não me importava com o que estava deixando pelo caminho, fui me desprendendo, me abandonando.

Na medida em que a distância aumentava, me senti mais leve.


A sensação de euforia foi passando, assim como a dor na boca do estômago e o som do meu coração batendo em louco descompasso aos poucos foi ganhando um ritmo mais calmo.

Corri, sem olhar para trás. Por muito tempo não ousei voltar. Nas vezes em que tentei me senti deslocada porque as coisas já não eram como antes, os amigos arranjaram outros amigos.


Segui em frente em busca de interesses próprios da juventude: busquei o amor e o sucesso profissional.

Eu sinto dificuldade em recordar a última cena. Não sei quem fez as malas, eu ou os meus pais. Não lembro qual o último amigo a me dar um abraço. Também não me recordo se senti medo.

Em uma manhã qualquer, eu parti.


Fui embora de casa e muito cedo me vi sozinha na Capital, cheia de sonhos, confiante no futuro maravilhoso.

Nesse tempo, eu estudei, casei e tive filhos, mas hoje sei que a partida ainda estava dentro de mim.


Só fui perceber isso após 10 anos, quando finalmente eu voltei para minha cidade natal.

Eu fiquei surpresa ao perceber que sentia saudades da minha infância no BNH do Pontal da Cruz.



Eu nem sei quantas vezes passei de carro em frente a minha antiga casa, nem de quantas histórias daquele tempo eu contei para os meus filhos, perdi as contas.

Eu corri bem rápido, o mais longe que pude, mas o meu passado sempre esteve grudado em mim.


Esse ano completa 20 anos desde a minha ida à Capital em busca do futuro e o meu retorno a terra natal, quando reencontrei o meu passado.

Estou feliz por ter voltado e resgatado essa parte da minha vida. Hoje se tenho uma certeza é do lugar ao qual eu pertenço.



Posso mudar de cidade ainda muitas vezes, viajar para lugares ainda mais incríveis e fabulosos, mas aqui está o sol que aquece a minha alma.

Eu me preparo para o dia em que terei que deixar os meus filhos seguirem os seus caminhos.


Espero ter oferecido a eles uma infância que um dia possam recordar com saudades e que sirva de referência de felicidade, aconchego e segurança.

E se um dia acordarem se sentindo desamparados, inseguros quanto ao futuro e cansados do presente, saberão que existe um lugar, lá longe, seguro em um passado distante, que aguarda por eles.

É só correr o mais rápido que puder, sem olhar para trás...

Um comentário:

  1. Dani, adorei esse texto, é tão natural....singelo, saudoso....emocionante!
    Bj, Márcia.

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