quinta-feira, 22 de março de 2012

Sem medo de ser diferente


Se existe um prazer na convivência com o ser humano é a possibilidade de poder aprender e se surpreender com visões tão diferentes do mundo.
Eu fico feliz com as infinitas chances que a vida me dá de avaliar conceitos e preconceitos que eu sequer tinha dado conta que existia dentro de mim.
Estou falando de um assunto que eu considero muito sério. Falo sobre abrir as portas do coração e da mente para aceitar o que é diferente, sem julgar.
Quando nos permitimos olhar para o novo com a ingenuidade de uma criança, sem buscar “pêlo em ovo”, o universo se torna um grande mestre.
Há pouco tempo, eu tive a oportunidade de aprender mais essa lição.
Aconteceu quando eu estava curtindo com a minha família, em um show ao ar livre, à noite, na cidade da Disney. Lá tinha gente de várias nacionalidades. Apesar disso, posso dizer que formávamos uma massa. Conhecíamos as músicas e dançávamos no mesmo ritmo.
Apareceu um homem que se destacou na multidão. Com a aparência desgrenhada, ele dançava em outro ritmo, como se estivesse sozinho, alheio a todos a sua volta.
Aquele homem diferente e indiferente chamou a atenção. Reparei como todos olhavam para ele, com um sorriso irônico, quem estava perto foi se afastando, alguns eu aposto que sentiram medo. Mas, enquanto isso acontecia, ele continuava dançando.
Olhávamos uns para os outros e todos na direção daquele homem. Será que estava bêbado? Drogado? Estava ali para criar confusão?
Enquanto a massa repelia, um rapaz apareceu, bonito, limpo e bem vestido, se aproximou do “estranho” e, com todo o respeito, começou a imitar os seus passos.
O rapaz quebrou as regras, ele teve a coragem de se aproximar e mostrar para todos que não precisavam ter medo só porque era diferente.
Os dois deram o maior show de simpatia e originalidade. Dois estranhos me deram uma lição de humildade e simplicidade.
Quando olhei para os lados, muita gente tinha feito uma roda em volta deles. Agora toda essa gente dançava e ria, sobretudo admirava a coragem deles de se exporem sem se preocupar em estar agradando ou não.
Poucas pessoas tem a coragem de desafiar as regras, mesmo aquelas que não estão explícitas, como as regras sociais.
Vi um filme recente sobre a trajetória da atriz e cantora alemã Hildegarde Neff. Em 1950, ela fez o papel principal no filme “A pecadora”. Este seria responsável pelo maior escândalo da Alemanha do pós-guerra, devido à exibição de uma curta cena onde Neff aparece nua.
Na época, a atriz sofreu com a moral vigente. Foi discriminada a ponto de não poder mais freqüentar lugares públicos como restaurantes. A situação insuportável obrigou-a a sair do país.
Tem uma cena neste filme em que ela se reúne com os jornalistas para uma entrevista coletiva. Todos estavam prontos para massacrá-la, quando ela olha e diz: “Os alemães viveram por muitos anos sabendo que pessoas estavam sendo exterminadas e não fizeram nada. Agora fazem uma revolução por causa de uma cena de nudez”.
Ela estava falando da passividade da massa, aquela mesma que julga e condena.
É bom saber que pode aparecer a qualquer momento um rapaz e mudar tudo, de um jeito simples e humilde, como naquela noite na cidade da Disney.
Como já disse o maior prazer de conviver com o ser humano é a possibilidade de aprender e reavaliar nossos conceitos.
Na volta dos Estados Unidos, o avião passou por muitas turbulências e eu fiquei com muito medo. Na saída da aeronave, não conseguia me conter e falava sem parar do alívio que sentia por estar em terra firme.
O meu sobrinho Lucas, de 5 anos, respondia. – Tia, mas o avião não mexe.
Na primeira vez fingi que não ouvi, mas na quinta vez eu já estava meio irritada com aquela impertinência.
- Como assim não mexe, Lucas, você dormiu na viagem?
- Tia, o avião não mexe, ele desliza nas nuvens!
Ele me ensinou uma nova forma de enxergar a situação, a sabedoria não tem idade, neste caso tem sensibilidade.
Às vezes ser simples é muito complicado!





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