quinta-feira, 19 de abril de 2012

Gênios Indomáveis










Leonardo da Vince


  Michelangelo            




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A Renascença foi um dos períodos mais ricos da história no que diz respeito à arte. E se existem dois artistas que se destacaram pela genialidade de suas obras foram Leonardo da Vince e Michelangelo.
Leonardo e Michelangelo tinham personalidades muito diferentes.
Leonardo chamava a atenção, principalmente por sua excepcional beleza e seu porte físico. Estava acostumado a usar túnicas coloridas, em geral cor-de-rosa, que iam até os joelhos – um pouco curtas para os padrões da época, mas sempre na moda.
Deixava que a longa e encaracolada barba chegasse à metade do peito. E era festeiro: baladas eram com ele mesmo.
Leonardo não era um simples pintor. Era, na verdade, um cientista com criatividade e sensibilidade extraordinárias. Transitava dos desenhos e pinturas aos grandes projetos de engenharia e de arquitetura com extrema facilidade.
Quando encasquetava com um problema qualquer, parava tudo o que estava fazendo – gravuras, quadros, projetos – e ia escrever um tratado sobre a questão. Era apaixonado pela natureza. E a tomava como ponto de partida em grande parte de seus estudos e projetos.
Um deles, o estudo da anatomia humana, o levou a dissecar cadáveres e a ser perseguido por isso. “Deixo a alma aos monges”, costumava dizer.
Michelangelo, ao contrário, era artista em tempo integral. Apesar de se considerar antes de tudo um escultor, também produziu afrescos e realizou experimentos com cores que influenciaram dezenas de outros artistas.
Precursor dos workaholics, era capaz de trabalhar até 20 horas por dia e dormir no chão do seu ateliê. Baixinho e um pouco curvado, estava bem longe de ser um homem bonito. Para piorar, numa briga, na adolescência, Michelangelo levou um soco que lhe quebrou o nariz.
Michelangelo também deixou seus escritos. Não milhares de páginas de anotações, esboços e tratados como Leonardo. Mas cerca de 300 poemas, entre sonetos, canções e fragmentos. Muitos deles dedicados ao amigo Tommaso Cavalieri, por quem Michelangelo cultivava uma paixão platônica.

“Amor, se tu se’ dio,/ non puo’ ciò che tu vuoi?/ Deh fa’ per me, se puoi,/ quel ch’i’ fare’ per te, s’Amor fuss’io...”, diz um dos versos. (“Amor, se tu és deus,/ não podes o que desejas?/ Bem faz por mim, se podes,/ como eu faria por ti, se o amor fosse eu...”).

Qualidades e diferenças a parte, dizem que os dois como todos os bons rivais não se topavam.
Para o artista e historiador italiano Giorgio Vasari (1511-1574), contemporâneo de Michelangelo e Leonardo, e autor de Vidas dos Pintores, Escultores e Arquitetos, a inimizade entre ambos deveu-se a um evento particular: o único encontro casual entre os dois nas ruas de Florença de que se tem notícia.
Leonardo passeava com um amigo perto do Palazzo Spini, onde um grupo de homens discutia uma passagem do Inferno, de Dante Aligheri, obra em evidência na época.
À determinada altura, os homens pediram que Leonardo lhes explicasse alguns trechos do Inferno, bem na hora em que Michelangelo passava pelo local. Leonardo, sabendo da admiração do jovem artista por Dante, disse então: “Michelangelo vai explicar para vocês”.
Pensando que estava sendo ridicularizado, Michelangelo enraiveceu e insultou Leonardo. Criticou a sua obra inacabada mais famosa, o monumental cavalo de bronze encomendado por Ludovico Sforza, duque de Milão: “Explique-se você, que fez um modelo de cavalo que jamais poderia terminar!”.
Atingido no calo, já em casa, Leonardo viveu um momento de grande baixa autoestima. Escreveu num de seus inúmeros cadernos de anotações: “Conte-me, conte-me se alguma vez eu fiz alguma coisa...”, considerando que talvez nada do que fizera na vida até então tivesse valido a pena.
Em 1504, conta a historiadora Maria Fernanda Vomer conta que ambos receberam o mesmo convite para retratar uma cena de batalha, de livre escolha, inspirada na história recente de Florença. O trabalho era tão bem pago que se tornou irrecusável – para um e para outro.
Na cidade só se falava disso, “a batalha das batalhas”. Mas, Florença e o mundo jamais ficaram sabendo qual dos dois venceria o desafio. É que ambos interromperam seus trabalhos no Palazzo della Signoria entre 1505 e 1506.
Leonardo, porque estava comprometido com encomendas inacabadas em Milão. Michelangelo, porque precisou atender aos pedidos caprichosos do papa Júlio II, em Roma, e deixou preparados apenas os desenhos de sua Batalha de Cascina.
Aparentemente, os motivos da desistência de ambos foram alheios à competição. Mas quem garante que não tenham amarelado?
Nessa época, Michelangelo tinha 29 anos, enquanto Da Vinci já era um cinquentão.
Michelangelo discordava daqueles que viam em Leonardo um gênio. Mas, num cantinho do seu ateliê, se via na obrigação de estudar as experimentações de seu grande desafeto, por ele ter sido precursor de uma série de inovações técnicas – como o “claro/escuro”, o jogo de sombra e luz.
Leonardo também criticava o fato de Michelangelo retratar somente figuras hercúleas, mesmo quando não tinham a ver com o contexto.
Esse parece ser um daqueles casos raros em que a existência da rivalidade só fez o trabalho de Michelangelo e Leonardo ser ainda melhor.

2 comentários:

  1. D+....adoro os dois...adorei o poema...adorei a abordagem...:)

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  2. Rê, obrigada! Fica difícil escolher entre um e outro, ainda bem que a gente não precisa fazer isso. Podemos amá-los igualmente, bjos

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