segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Tributo à Mestra do Lixo

Por Isabel Galvanese


" O verde em si é nossa própria vida. Verdejamos ! " (Patricia Blauth)

Quando cheguei em São Sebastião, 25 anos atrás, fiquei muito perdida. Tentava fazer amigos mas não me sentia bem nos grupos, parecia algo forçado, sem uma verdadeira conexão.
Como sempre tive interesse por assuntos da biologia, fui na Secretaria de Meio Ambiente da cidade para conhecer os projetos existentes e tentar participar de alguma forma.
A primeira pessoa que encontrei foi a Patricia Blauth, que estava começando um projeto de coleta seletiva, e me atendeu com uma doçura incrível. Pat, como eu passei a chamá-la, foi uma das pessoas mais importantes que cruzaram a minha vida. Dessas que mudam o seu jeito de pensar, uma Mestra Verdadeira!


Em cima da sua mesa tinha uma caixa de vidro com terra dentro.

_ O que é isso? perguntei.

_ É uma composteira de mesa.

E logo foi me contando tudo sobre compostar, reciclar, reduzir .

_ Achei minha turma! pensei


Dessa rápida visita saí com um convite para um encontro da Ong que ela participava, o MOPRESS- movimento de preservação de São Sebastião -e para várias atividades divertidas: feira de escambo, trilhas na mata atlântica, cachoeiras, passeios noturnos na maré baixa, e muitas outras coisas.Íamos com a família e foi uma maneira muito bacana de educar as crianças. Começou uma época muito rica de vivências, estudos e informações novas. Nos tornamos ativistas ambientais!
Eu que cheguei prepotente aqui em São Sebastião, vinda da cidade "grande", logo percebi que estava enganada e nesse novo lugar eu aprenderia muito. Daí em diante eu nunca mais subestimei São Sebastião!
A proposta de começar a coleta seletiva na cidade- a primeira do Brasil- foi feita pela Pat, junto com duas amigas a Nyelse e a Georgeta, que juntas mudaram a cara da cidade. Tinham uma estrutura mínima, uma salinha e um caminhão velho que quebrava toda hora. Mas o segredo delas é que o foco foi total na educação ambiental! Elas faziam inúmeros encontros para falar sobre o lixo, andavam no caminhão observando quais casas ainda não separavam , conheciam as associações de bairros, e criaram a cooperativa. Um trabalho de formiguinhas carinhosas!
Ainda hoje, mesmo com o descaso total de muitas gestões públicas, continuamos a separar nosso lixo. Foi uma educação profunda.
No caso da minha família em especial, fizemos uma revolução! Modificamos nossos hábitos em casa, no trabalho, influenciamos família e amigos. Diminuímos nosso lixo a quase nada. Nunca mais comprei ou descartei algo sem pensar no impacto que isso pode causar.

Minha querida amiga, Pat, nos deixou faz alguns dias...

Hoje, diferente de quando cheguei aqui em São Sebastião, tenho muitos amigos e estou aberta a fazer muitos outros mais. Não foi a cidade que mudou e sim eu que passei a olhar o mundo de forma mais abrangente. Coisa que só acontece com a gente se temos a sorte de encontrar uma mestra especial!




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