segunda-feira, 17 de setembro de 2018

A grande família



Essa semana eu recebi a notícia de que uma amiga muito querida está grávida pela quarta vez e fiquei muito feliz. 
Hoje é difícil encontrar um casal disposto a construir uma família com mais de dois filhos, o que no passado era perfeitamente comum.
O meu marido, por exemplo, tem uma família grande, que se reúne uma vez a cada dois anos, para colocar os assuntos em dia, apresentar os novos integrantes e reforçar os laços de afeto.

O fato de muitos mal se conhecerem, não lembrarem seus nomes ou o grau de parentesco que os unem é irrelevante. Eles sabem pertencer aquele grupo, abrem seus corações e fazem tudo dar certo.
Sempre vou embora desses encontros me sentindo grata por pertencer a um grupo familiar generoso e disposto a amar.  
Por outro lado, eu não conheço toda a minha família e não estou falando apenas dos primos distantes.
O irmão da minha avó, Zilmar, eu só conheço por nome. Fiquei sabendo que ele faleceu, portanto, agora só depois.
Ele casou e teve filhos, será que sabem que nós existimos aqui na pacata cidade de São Sebastião? Acho que sim.
Quando eu era mais jovem, esse é o tipo de assunto que não me interessava, tanto que quando casei simplesmente tirei o sobrenome Kosel, que herdei do meu avô, pai da minha mãe, com quem convivi muito pouco, por ser difícil de soletrar.
Passado muitos anos, um dia eu estava em Praga, capital da República Tcheka e vejo em um outdoor gigante, de propaganda de cerveja, o meu sobrenome Kozel, escrito com k.
Será que pertence a minha família?
Fiquei eufórica, comprei a tal cerveja, pesquisei na internet a origem da palavra e, de repente, queria saber o máximo possível sobre todos os Kosels ou Kozels que existiram sobre a terra. 
De repente eu percebi que o meu sobrenome é qualquer coisa como uma corrente familiar, que tem unido pessoas há muitos e muitos anos e que eu quebrei isso, simplesmente, por preguiça.
No rótulo da cerveja consta o ano de 1874, ou seja, pelo menos 100 anos antes do meu nascimento já existia o sobrenome. Quantos Kozels ou Kosels terão existido antes de mim?  
Precisei ir tão longe para dar valor a algo que eu tinha. Triste isso, não é?
Pois bem, o bom é que a corrente familiar se refaz.
Não importa sobrenome, grau de parentesco, se convivemos ou mal nos conhecemos, o sentimento de pertencer a uma família não é rompido sem que se queira grandemente.
No dia em que recebi a notícia sobre a gravidez da minha amiga, nos falamos ao telefone.
Conversamos sobre o quanto esse momento era incrível, mas também sobre alguns planos que precisariam ser adiados em função da chegada do bebê, como o de abrir um novo negócio e fazer um curso de artes em São Paulo.
Quando nos falamos eu estava no aeroporto, voltando para casa, após passar uma semana com o meu filho.
Estava com o coração apertado de saudades futuras, imaginando como seriam os meus próximos dias em uma casa cheia de quartos vazios e silêncios quebrados apenas pelo som da televisão, onde sobram chocolates, ninguém mais bebe leite e tudo permanece arrumado, quase desumano...  
Com tantos pensamentos, acabei por lembra-la que em troca de seus planos adiados ela dificilmente terá uma casa vazia ou dúvidas sobre se ainda é necessária para alguém.
Terá outras coisas com que se preocupar, mas diante do amor que irá receber todas me parecem hoje irrelevantes.


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