domingo, 1 de novembro de 2020

A poesia que há em mim saúda a poesia que há em você.


Eu terminei hoje de ler o livro ”O dia em que a poesia venceu um ditador”, de Antonio Skármeta, o título sozinho dá uma boa discussão, mas o conteúdo é ainda mais relevante.

A história se passa no Chile, durante a ditadura de Pinochet. Após anos de violência, milhares de pessoas desaparecidas e assassinadas, o povo vive como zumbi.

Respira e obedece. No intervalo entre uma coisa e outra, tenta não se meter em confusão. Mas, isso depende mais da sorte do que da prática adquirida dia a dia.

Abraçados com a desesperança, herdeiros do silêncio, resignados a viver em um país sem liberdade de expressão, a juventude sucumbe ao horror.  

Em alguns momentos, parece não haver saída porque os jovens são sempre a última esperança de mudar um país.

Então, nesse clima de apatia, o ditador – certo de dominar a situação – decide fazer um plebiscito.

Ele já possui o poder sobre tudo e todos dentro do seu país, mas quer provar ao mundo exterior, que duvida dos seus métodos de governo, que é amado pelo seu povo.  

É típico de pessoas malvadas quererem fazer acreditar não são a causa da dor, mas o remédio amargo da cura.   

Com isso, o ditador decide fazer um plebiscito para que a sociedade chilena vá às urnas e vote se ele deve permanecer no poder.

Se o SIM ganhar, ele permanece e de forma democrática, deixando o passado golpista para trás. Caso o NÃO vença, adeus Pinochet.

Para tentar derrotá-lo, ele permite que um grupo formato por 16 partidos com ideologias diferentes tenha 15 minutos de propaganda na televisão.

Esse grupo de oposição contrata Adrián Bettini, considerado o melhor publicitário do Chile, para criar a campanha do Não.

Bettini havia sido preso e torturado e, até surgir o plebiscito, estava desempregado por fazer parte de uma lista negra do governo.

As dúvidas dele são inúmeras: Como criar uma imagem para unir 16 partidos com ideologias tão diferentes? Como tirar o povo da apatia e fazê-lo ir votar, como conquistar o voto dos indecisos?

Até a própria filha dele, Patrícia, não demonstra interesse no plebiscito. Ela não acredita que Pinochet vai aceitar o resultar das urnas se o Não vencer.

A jovem não acredita mais no seu país, ela planeja ir embora assim que concluir os estudos.

Mas, o publicitário escolhe seguir um caminho inusitado, imprudente e aparentemente inofensivo.


Ele escolhe embrulhar uma bala de cicuta em papel de celofane. Ele escolhe usar a poesia para lutar contra a ditadura.

A música da campanha é inspirada numa valsa de Strauss, o logotipo é um arco- íris. O tema central é a ALEGRIA.

Os lideres dos partidos da oposição ficam chocados com a campanha, como pode ele não citar os anos de tortura, o número de desaparecidos e mortos?

E da parte do ditador, o que ele ouve são piadas. Essa campanha é inofensiva, eles dizem.

- Acham que vão nos vencer com uma valsinha?

Pois, é.

A arte NUNCA é inofensiva. Ela toca em pontos escondidos dentro de nós, às vezes sentimos e outras não.

Mas, não sentir também é uma forma de reagir.

 Ela é uma arma poderosa de transformação porque desperta a vida vivida e a vida sonhada.

A arte mostra possibilidades infinitas e nos transporta por muros com arames farpados, cercas elétricas e barreiras de vírus mortal.

Quando alguém sonha e tem coragem de expor suas ideias ela está semeando o mundo e fará brotar dúvidas e, sobretudo, esperança.

Esperança. Eu li que deveriam inventar outro nome para essa palavra, porque esperança vem de espera. Esperança é agora.  

Talvez você não acredite que seja possível vencer a luta contra a opressão apenas com poesia.

Mas, eu acredito nos poetas, nos jovens sonhadores, imprudentes, loucos e desavisados.

Eles se reconhecerão e quando acontecer vão se unir e juntos despertaremos para o melhor que há em nós.

Levante- se, poeta!  Eu quero caminhar contigo. 

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