segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Janelas abertas para o viver

 


O meu pai adora abrir as janelas, ele diz que ao fazer isso renova as energias presas na casa. Não importa se está frio lá fora ou se está chovendo, sempre dá um jeito de deixar uma frestinha aberta.

Por vezes, reclamamos: – Fecha a JANELA, a casa está gelada! Tá chovendo aqui dentro, pai!

Mas, ele nunca nos dá ouvidos. Pisciano é um pouco vidente, então, talvez ele consiga enxergar além de nós e isso explique as suas motivações.

 De fato, minhas irmãs e eu nunca sentimos qualquer energia negativa em nossa casa de infância. Eu receio que isso não se deva apenas às janelas sempre abertas, a energia negativa não teria agüentado muito tempo os nossos gritos e risadas.

Sempre fomos uma família barulhenta, minha mãe nos defende dizendo que somos descendentes de italianos e essa é nossa herança. Também sempre desconfiei que não fosse só isso, mas a mãe e o pai da gente sempre tem razão, não é? 

Além das nossas vozes sempre em tom maior, a minha casa sempre foi embalada pelo rimado da timba e as músicas de Adoniran Barbosa, Lairton e seus teclados, Fagner, Elvis Presley. O meu pai costuma ouvir um repertório muito eclético, sempre no volume alto.

Às favas se queremos conversar e precisamos gritar para sermos ouvidos, uma hora cansamos de concorrer com a música e nos juntamos a ele. Nossos encontros sempre acabam em cantoria.

Neste clima de turbulenta alegria, nunca houve espaço para energia negativa. Disso eu tenho certeza. Mas, acho bom que ele continue a abrir as janelas. O mundo precisa muito da energia que sai da casa dele, de aconchego e festa.

Então, abra as janelas, pai! Para que todos recebam um pouco do amor que existe na sua casa.

 

 

Um comentário:

  1. Filha estamos chorando, linda crônica, reflete muito o período da infância de vocês...amamos você...

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