quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A dona do balanço

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Eu imagino o espanto das pessoas ao verem uma mulher na faixa dos 40 anos pendurada nesse balanço.  
Se isso aconteceu, e é bem provável que sim, eu estava longe demais para perceber. Eu estava vivendo a minha infância, um lugar quase esquecido dentro de mim.
Eu percebo agora, que não é só a casa que fica cheia de louças inúteis ou os armários que parecem abarrotados de roupas, conforme vamos envelhecendo. Acumulamos muitas outras coisas inúteis e nos acostumamos com elas. Até um dia em que, por acaso, a gente topa com essas coisas e leva um tremendo susto.
Se eu não consegui enxergar o que sempre esteve a minha frente, o que mais deixei passar? E, assim, como acontecem com as roupas e as louças, a memória da infância também é guardada no canto das coisas sem muita importância e utilidade.
Ela é esquecida embaixo dos acontecimentos marcantes da juventude e das obrigações da vida adulta. Mas, em um belo dia, como aconteceu comigo, a memória da infância é resgatada.
Pode acontecer ao encontrar com um amigo, ouvir uma música antiga, sentir o aroma de um perfume ou o sabor de uma comida.
Comigo aconteceu quando eu encontrei um balanço na praia e resolvi testar se ainda sabia como brincar com ele. Com algum esforço e arranhões, eu me pendurei na corda e me equilibrei na borracha do pneu.
Por alguns minutos, eu voltei a ser a criança que olhava para o mar como se ele estivesse ali só para ela. Foram apenas alguns minutos, logo senti as minhas mãos e pernas doerem com a posição incômoda.
As coisas mudam, mas nem por isso devem ser esquecidas.

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