sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Coração aflito



Amor, você convive comigo mais do que qualquer outra pessoa, qual é o meu maior defeito?
A resposta veio rápida: Você, às vezes, é pesada.

Com certeza ele não se referia ao meu peso. Conhecendo- o como eu conheço, sei que, além de ser um homem gentil, o meu marido é um cara prudente. Ele se referia ao modo como eu levo a vida, às vezes.
Eu esperava um adjetivo pouco lisonjeiro, se não eu não teria perguntado sobre o meu defeito, mas “pesada” foi um pouco estranho.
Não digo ruim, mas foi estranho.
Só para explicar que não é a primeira vez que eu pergunto isso para o meu marido. Não sei por que eu faço isso. Não sei mesmo.
Desconfio que, às vezes, eu não me enxergo e preciso que ele seja o meu espelho.
Do jeito que é só dele e que me faz amá-lo depois de quase 30 anos, o meu marido consegue me trazer de volta do céu e do inferno, lugares aonde vou e volto tantas vezes em um único dia.
Engoli a palavra “pesada” sem fazer cara feia. Mastiguei a palavra “pesada” e saboreei delicadamente cada sílaba, PE –SA – DA.
Observei, com cuidado, qual o sabor que essa palavra tinha na minha boca.

Concluí: o gosto não é bom.

Engraçado que também nunca achei bom ser considerada pelos amigos e a família como uma pessoa muito zen e até distraída.
Pra dizer a verdade, eu sempre soube que isso era uma meia verdade.
Por outro lado, nunca me esforcei para mudar a opinião deles.
Sempre tive a sensação de que o “meu jeito leve de ser” levava a paz para os seus corações aflitos. Então, tá. Que seja.
Mas, o meu marido não se deixa enganar. Ou talvez, ele até queira fazer isso, mas eu não deixo.

O dó, o que eu faço com ele?

Digo que vou mudar, sabendo que isso um dia será uma verdade, mas a longuíssimo prazo, quem sabe outra encarnação?
Ou peço apenas que me aceite, como tem feito, e não desista de mim porque sozinha não conseguiria dar conta de carregar o peso de ser eu.

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