segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Paço Imperial: Local dos acontecimentos que mudaram a história


Na época da monarquia, os acontecimentos históricos mais importantes foram decididos no edifício do Paço Imperial, que está localizado na Praça XV, às margens da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
Antiga residência do governador e do Vice-Rei no século XVIII, a partir de 1808, com a chegada ao Rio de Janeiro da família real portuguesa, o edifício passou a ser usado como casa de despachos do Príncipe-Regente (e depois Rei) D. João VI.
É a partir deste lugar que começou o meu passeio em busca de informações sobre o Rio antigo. Para chegar até lá eu peguei o metrô e desci na Estação da Carioca e o restante do caminho eu fiz a pé. 


O passeio no Paço Imperial é gratuito e logo na entrada eu me surpreendi ao ver um bote inflável com uma tripulação bonecos gigantes, obra do artista chinês AI WEIWEI, uma referência aos refugiados que se lançam às águas do mediterrâneo rumo à Europa.
Eu confesso que não esperava encontrar isso no Paço Imperial. Mas, também, o que eu esperava? Após a Proclamação da República, em 1889, as propriedades da Família Imperial e seus bens foram leiloados e o Paço foi transformado em Agência Central dos Correios e Telégrafos. 


Subi as escadas do prédio para continuar o passeio e quando cheguei ao 1ª andar compreendi que o Paço Imperial agora é um espaço multicultural. 

Exposição do artista Paiva Brasil, que brica com a cor e instaura um construtivismo lúdico.
Eu fiquei decepcionada no começo do passeio porque não era bem o que eu estava procurando, mas um guarda me orientou a ler as placas que estavam nas paredes das salas para obter informações. 
Ao ler a 1ª placa descobri que estava na sala 13 de Maio, onde a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que declarou extinta a escravidão no país. 

Foto do povo em frente ao Paço Imperial comemorando a assinatura da Lei Áurea (Wikipédia)
Uau! Sério? Mas, porque esse acontecimento está representado de forma tão tímida naquele lugar? Não tem sequer a cópia da Lei Áurea. 


No meio da sala, estava a escultura “Catilina”, de Angelo Venosa, que reflete sobre o tempo, a ruína e a criação.
Segui adiante e cheguei a uma sala imensa, ao ler a 2ª placa, descobri que estava na Sala do Trono, onde Dom João VI e depois Dom Pedro I e Dom Pedro II concediam audiências e realizavam cerimônias do beija- mão. 


Um imenso troco de árvore tomava conta deste espaço. Ele faz parte da Exposição “Os vivos e os mortos”, de Jonas Arrabal, que aborda questões como permanência/impermanência e memória/esquecimento. 
Um pouco mais adiante, a 3ª placa indicava que eu estava na Sala do Dossel, onde em 9 de janeiro de 1822, Dom Pedro I, anunciou que ficaria no Brasil, desobedecendo às ordens da Coroa Portuguesa, o famoso Dia do Fico. 

Imagem ilustrativa do Dia do Fico, Dom Pedro I na varanda do Paço Imperial (Wikipédia)
Por fim, cheguei a 4ª e última Placa, onde estava escrito Mestre Valentim, homenagem ao artista que construiu o o Chafariz, símbolo da Praça XV. 
Neste percurso, eu também dei uma olhada pelas janelas para ver a vista do Palácio Tirandentes, hoje sede da ALERJ (Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro), local onde ficou preso o mártir da Inconfidência Mineira. 



No final do passeio, eu já tinha me rendido ao fato de que não encontraria ali o “espírito” da época da monarquia, mas um universo de arte super contemporânea. 



Depois de visitar as exposições, eu fui almoçar no restaurante/ livraria do Palácio Imperial, Arlequim.
O lugar é incrível, os garçons são simpáticos e a comida deliciosa. É um lugar que eu volto com certeza e recomendo à você. 



Na saída do Paço Imperial, decidi conhecer a Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo, antiga Sé, que já foi a Capela Real Portuguesa e também a Catedral do Rio de Janeiro. 



Nesta igreja aconteceu a sagração de Dom João VI como Rei de Portugal, em 1816, após o falecimento de D. Maria I; o casamento do de Dom Pedro I com Dona. Leopondina e da princesa Isabel com o conde D'eu. 


Depois caminhei pela Praça XV, me distraí e por pouco não fui atropelada pelo VLT (kkk). 

Imagem antiga do chafariz 
Eu estava observando o Chafariz do Mestre Valentim, inaugurado em 1789, que no passado abastecia com água, além da população, as embarcações que ancoravam perto dali. 


Em 2016, a Praça XV foi revitalizada, como parte do projeto Porto Maravilha, e hoje é o coração do skateboarding no Rio de Janeiro. Com muitos jovens passeando por ali, um sol bonito, a brisa agradável do mar, me senti tranquila para caminhar pela orla da praia. 


Não pude deixar de pensar que, no século XVI até meados da década de 1770, com a construção do Cais do Valongo, a praça foi o principal ponto de desembarque de escravos na cidade.

Nem tudo muda para pior, afinal.

2 comentários:

  1. Olá Dani!!! Adorei essas suas postagens sobre o meu Rio de Janeiro, que tanto amo. Viajei com você em todos os lugares por onde passou, você conseguiu registrar e transmitir verdades de cada local (mesmo com tantas mudanças). Nos lugares onde você esteve, eu me vi na época da minha adolescência, (local que eu fazia as minhas pesquisas escolares), parece que fiz uma viagem no tempo...rs Muito obrigada por me proporcionar tal emoção, com tanta riqueza de detalhes...Você é incrível em tudo que faz sempre colocando amor, que se mistura à sua competência, sensibilidade e que descreve a sua peculiar personalidade. Sabe o que mais gosto disso tudo? É saber que você é minha AMIGA e que tenho uma amiga tão sensível, além de competente! Minh #gratidão Miriam Freitas

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Mi, que legal ler a sua mensagem, fiquei muito feliz em saber que consegui despertar lembranças tão especiais e felizes. Quem.me dera ter ido a todos esses lugar na minha infância , obrigada por me contar tudo.isso, vc é uma amiga que eu adoro, beijos

      Excluir