segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Aldeia indígena Kambeba é referência em educação intercultural


O auge do meu passeio ao Amazonas foi a visita ao povo indígena Kambeba que, há 30 anos, deixou o Rio Solimões para viver na margem do rio Negro em busca de melhores condições de vida.

Lá eu conversei com o Raimundo, conhecido pelo nome indígena de Kamberi (homem guerreiro), que é o diretor da escola local e o tuxaua (homem que manda).  


Ele me contou que a mudança para o rio Negro ocorreu após a morte de sua irmã por engasgamento. “O meu pai se desgostou do alto rio e nós mudamos pra cá, mais próximos a Manaus”.

Aos 14 anos, tendo estudado até a 5ª série, Raimundo foi escolhido para ser o professor da aldeia e iniciou uma luta contra a discriminação para poder estudar e se especializar na área da educação.

Atualmente, ele é graduado em Pedagogia Intercultural Indígena, com especialização em Gestão de Escola. Também está se especializando em Gestão em Projeto e Formação Docente, e fazendo mestrado na Universidade Federal do Amazonas.


“Hoje eu digo que sou indígena, não um indígena faz de conta, mas um indígena da atualidade, que vive hoje a realidade dos avanços tecnológicos, dos conhecimentos do não índio”, afirma. 

Ele me contou que a primeira escola da aldeia foi construída com palha, não tinha caderno, lápis, borracha, mesa ou cadeiras.

“As crianças sentavam no chão. Meus materiais didáticos eram sementes, folhas, galhozinhos das árvores..., mas isso ajudou a me fortalecer muito”.


Com o apoio do governo do Estado e do município, a escola de palha foi substituída por uma de madeira e, em 2013, foi construída a escola nova, climatizada e com acesso à internet.

“Quem dá o suporte para a nossa educação são os nossos mais velhos. O currículo da nossa escola é feito com o conteúdo tirado daqui, dos nossos saberes tradicionais”, explica.

Barco usado para transportar os alunos de outras comunidades até a escola 

Em 2013, o governo do Estado do Amazonas fez uma avaliação com os alunos e, entre 512 unidades, a escola da comunidade Kambeba, do Rio Negro, conquistou o 1º lugar. 
O resultado atraiu a atenção da Unicef, Unicamp e da Universidade de Columbia.

“Nós indígenas precisamos muito do conhecimento que vocês têm, assim como vocês precisam muito do nosso conhecimento indígena. Se esses dois conhecimentos se juntarem e se respeitarem, aí sim, nós vamos ter no Brasil uma educação muito melhor”, acredita Raimundo. 

 



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