O tempo muda tudo até as estações do ano.
Quando eu era pequena, janeiro tinha gosto de verão e picolé de groselha e julho tinha o sabor do inverno e brigadeiro na panela.
As outras estações, primavera e outono, estavam sempre presentes, por isso, talvez, eram pouco mencionadas.
Era comum na casa onde morava ver flores surgindo aonde ninguém plantou ou sentir o vento sudoeste que enchia a casa de cheiro de maresia. Era a primavera dando um show, mas ninguém falava nada porque estávamos acostumados a sua beleza.
As frutas nasciam nos pés de árvores plantadas nas calçadas do bairro, antes da Lei da Acessibilidade ser criada. Não que eu seja contra a lei, apenas sinto saudades das árvores.
Nós nos reuníamos na Fazenda Santana e, entre uma conversa ou outra sempre aparecia alguém com uma história de mistério sobre os escravos que tinham morado ali. Enquanto ouvíamos, saboreávamos as goiabas suculentas.
Voltávamos para casa com um saco cheio de goiabas ou outras frutas da época. Aos poucos nos livrávamos delas, algumas iam parar no estômago, outras eram jogadas fora porque, maduras demais, atraiam as abelhas.
Quando dava preguiça de ir até lá subíamos no pé de abacate que ficava no quintal de uma casa em frente a minha. A árvore também servia de moradia para os gatos do bairro, mas eles só dominavam o espaço a noite. De dia o lugar estava liberado.
Quem lembrava que era o outono? Eu, não lembrava.
Naquela época, as estações pareciam fazer mais sentido. Agora, parece que tudo está diferente. O inverno chega quando quer, vai embora de repente e ninguém parece sentir a sua falta. – “Uma hora ele volta...”, é o que a maioria parece pensar.
O inverno é a estação dos meus pecados preferidos: gula, preguiça, luxúria e vaidade. É bom demais comer, dormir, namorar e se enfeitar sem culpa. Por quê? Porque o inverno permite essas extravagâncias. De qual outra estação você poderia dizer o mesmo?
Eu não conheço nenhuma.
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