Eu estava em uma reunião com amigos e a conversa de repente
mudou para um tema que nós, mulheres, somos quase especialistas: a culpa.
Eu, por exemplo, me sinto culpada a maior parte do tempo por não conseguir dar
conta de tudo e de todos à minha volta.
Mesmo sabendo que eu sou apenas um ser humano comum, sem
nenhum poder mágico, ainda assim, na maior parte das vezes, eu me cobro e me
culpo por achar que faço menos do que eu deveria para os outros e para mim mesma.
Quando eu me canso disso (porque se sentir culpada cansa pra caramba!), fico imaginando eu presa em um pau de
arara tomando algumas chibatadas. No caso, eu bato e apanho. Sei bem o quanto é
difícil ser escrava da culpa.
A culpa é um sentimento muito mesquinho. Ela sempre está
cobrando alguma coisa: Mais Tempo, Mais disposição, Mais alegria, Mais e
Mais...
Por mais esforço que seja feito, a culpa sempre aparece para dizer: Poderia ter feito Mais!
Uma das culpas que as mulheres carregam e eu me incluo entre
elas é o fato de ter que dividir o tempo entre o trabalho e a família.
Eu lembro uma época em que estava muito feliz no meu
trabalho, mas uma parte de mim dizia que eu tinha que ficar em casa e dar mais
atenção aos meus filhos pequenos.
Para me conformar e tentar afastar a culpa, eu dizia para
mim mesma que precisava do dinheiro para que os meus filhos pudessem fazer as
suas próprias escolhas do futuro.
Naquela época eu não estava querendo admitir que estivesse mais
feliz no trabalho do que se estivesse apenas em casa cuidando das crianças.
Mas, a verdade, é que eu adoro ser mãe só não consigo me satisfazer
apenas com esse papel.
No fundo, hoje eu posso compreender que estava dizendo aquilo
para disfarçar o quanto eu me sentia culpada por estar feliz.
A felicidade é uma coisa que nos enche de culpa e não deveria ser assim porque na vida todos nós passamos por momentos bons e ruins e deveríamos relaxar e aproveitar quando o caminho estivesse livre de espinhos.
Mas, não é isso que acontece na maior parte das vezes.
Geralmente, quem se sente culpada ao invés de caminhar pela vida fica
procurando os espinhos.
Cadê vocês: problema, tristeza, dor, perda... Onde estão
vocês para me fazer sentir culpada por estar feliz?
Lembro uma noite, há muitos anos, quando os meus filhos
ainda eram crianças em que fiquei trabalhando até tarde em um projeto, esqueci da
hora, até que recebi uma ligação deles me pedindo para ir para casa.
Na mesma hora, um sentimento terrível de culpa tomou conta
de mim.
Eu era uma mãe terrível! Como podia fazer isso com os meus filhos pequenos? Estar até tarde no trabalho e esquecer os meus compromissos de mãe? Pensei, imediatamente.
Se eu tivesse asas, voaria para a minha casa. Mas,
infelizmente, tive que amargar alguns minutos no trânsito. Quando estamos
angustiados, os minutos se transformam em horas.
E, quando cheguei à minha casa, para piorar a situação, encontrei um bilhetinho dos meus filhos em cima da mesa, dizendo:
- Mãe, nós não conseguimos te esperar e fomos dormir.
Meus olhos se encheram de lágrimas e, sem me preocupar se
era cedo ou tarde, entrei no quarto das crianças pronta para acordá-las e dar
um abraço nelas, com muitos pedidos de desculpas.
- Sabe o que aconteceu?
Os meus filhos estavam escondidos atrás da porta e, na hora
em que entrei no quarto escuro, eles saíram e me deram o maior susto!
Foi um alívio perceber que eles não estavam tristes como eu
supunha. Pelo contrário, todo o tempo em que eu sofria imaginado- os abandonados
em casa, eles estavam armando uma grande surpresa para mim.
Hoje, eles já são adolescentes e ainda se lembram daquela
noite.
Eles lembram a minha cara de espanto, o meu grito de susto,
mas duvido que se lembrem dos meus olhos cheios de lágrimas, cheios de culpa
por não estar ali com eles. A culpa também tem seus disfarces.
Eu tenho estudado sobre a força do pensamento e hoje eu acredito
que se você pensa com insistência em alguma coisa, boa ou ruim, ela se materializa.
Eu ainda me sinto culpada por não ser
uma mãe perfeita. Mas, estou aprendendo a não dar
força para esse pensamento.
Hoje, quando eu sinto que a culpa vai ameaçar a minha
felicidade, antes de entrar com tudo nesse quarto escuro, de tristeza e solidão,
eu acendo a luz da minha memória e penso em todas as coisas boas que eu fiz. Os meus filhos são o melhor exemplo disso.
E quer saber?
Eu descobri que a culpa não resiste a bons pensamentos e nem a abraços e beijos sinceros.
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