Por Sonia Lopes
Dia 41 – La Faba - Cebreiro - 6km
Curtinho, mas um subidão medonho. Que nada... foi tranquilo.
Sério. Subir o Cebreiro devagarinho é um passeio. As paisagens serão melhores
entendidas nas fotos. De babar.
Chegamos ao Cebreiro por volta das 10:30 horas. Uma fina
névoa cobria tudo... que lindo! Fomos logo ao albergue ver se conseguiríamos
camas baixas nos beliches.
Como viajamos em 3, sempre acaba sobrando cama alta para
uma. E essa uma sempre sou eu! (elas até dizem "deixa que hoje eu fico em
cima"... mas, a Anna é a mais velha.
A Cláudia anda de noite. Ou seja: eu danço e não aceitaria outro
arranjo.) Não. Subir e descer de beliche durante a noite depois de um dia
caminhando não é coisinha à toa. Pode parecer, mas não é!
Chegando ao albergue, vimos que só abririam às 13:00hs... e
o tempo foi mudando. Um ar gelaaaado e a névoa ficou parecida com gelo seco. Na sequência um vento
e uma chuvinha fina. E nada do albergue abrir. Peregrinos foram chegando e se
aboletando na entrada para se proteger do frio.
Improvisamos uma fila com as mochilas e corremos para um bar.
Quando finalmente o albergue abriu (13 em ponto, limpo,
grande e moderno) vimos que a ordem de entrada numerada é que define a cama. Não dá pra escolher. A Cláudia veio logo correndo avisar que não
havia portas nos boxes de banho. Na ampla e linda cozinha só tem 1 panela.
Rimos muito de tudo, compramos um queijo e fomos beber vinho.
Comi polvo, tomei um banho e um balde de sopa galega para me
aquecer. A chuvinha fina virou chuva forte com ventania! Agora estou aqui no
alto do meu beliche gelado escrevendo para o blog. Vôtecontá!
Dia 42 - Dia 42 -
Cebreiro - Fonfria - 12km
Chegar ao Cebreiro foi relativamente fácil. Dividir a subida
em dois dias foi uma jogada de mestre. Mas o Caminho cobrou caro a esperteza.
Passar a noite lá foi duro e sair foi realmente penoso.
A chuva rala não era o suficiente para nos prender. Mas, foi
só sair para ela cair com força. O vento contra e gelado me lembrou muito o
início da Via de la Plata. Um consolo
era que havia um pueblo a pouco mais de 3 kilômetros.
A gente chegava, bebia algo quente, a chuva estiava um pouco
e lá íamos nós. E aí ela vinha de novo. Rasteira, de lado, molhando botas e
pernas. Mãos congeladas. Até que não deu
mais para suportar. Chato ter que parar sendo que nenhuma das 3 estava
cansada. Mas já estava sem sentido
aquilo. A capa da Anna rasgou. Minhas botas estavam fazendo espuma de tanta
água. A Cláudia molhada. E ficar doente não está nos planos.
A coisa estava tão brava que até um cachorro enorme apareceu
no café em que paramos e roubou o chapéu de um peregrino. Mesmo! Levou! Ainda
bem que não foi o meu.
Paramos em Fonfria e vamos tentar recuperar estes kilômetros
amanhã e depois. Agora é secar as
roupas, as botas e torcer para o tempo amanhecer melhor. Tomara!
Dia 43 - Fonfria -
Samos - 18 km
Genteeeeee que derrota acordar as 6 hs e ver que a chuva
persistia. Reunião extraordinária para decidir entre ficar, chamar um táxi ou
sair quando a chuva abrandasse. Meia
hora depois, bem alimentadas, secas e descansadas, a Anna Maria de capa nova, a
Cláudia de banho tomado e eu... sei lá de mim. Vou seguindo como dá.
Bem... meia hora depois saímos na chuva fininha. Hora
aumentava... hora diminuía... Cheguei até a ver o sol por uns 5 minutos. Mas
foi só.
Alguns trechos com lama, mas nada muito grave. Fiz poucas fotos, pois a chuva poderia
danificar meu celular. Pena.
A chegada a Samos é com a visão do espetacular
Monastério. Vale o sacrifício. Hoje vou rezar em um tom mais bravo para a
chuva passar. Já deu.
Dia 44 - Samos -
Sarria - 13 km
O percurso foi curto, mas o terreno acidentado e os trechos
com muita lama fizeram o tempo se arrastar. Até que tinham pueblos no caminho, mas nada de botecos
abertos. Na verdade nem abertos e nem fechados. O jeito foi tocar direto.
A chuva começa a rarear e com isso também o tira e veste
capa. Me preocupo muito quando caminho nestas condições. A gente sua sem perceber por causa da capa, e
o frio faz com que a sede não seja tão evidente. Bebo mais água por medo de
desidratar. E desidratar fazendo esse tipo de atividade é encrenca! Além disso,
as dores musculares aumentam.
Chegamos em Sarria com frio... A Anna comprou uma papete
para dar uma folga para os dedinhos. (ela não tem as manhas de calçar havaianas
com meias) A Cláudia foi à missa. Eu bebi vinho e vou rezar um Pai Nosso em
alemão para ver se funciona. Ontem rezei em português e o sol não deu as caras.
Ah! Conhecemos um casal animadíssimo de Santa Catarina.
Dia 45 - Sarria -
Portomarin - 22 km
O Pai Nosso em alemão deu um susto no pessoal lá de cima. Não de todo, pois um chuvisquinho teimava em aparecer. Mas aquela chuva com vento gelado dos últimos dias já era. O sol brilhou entre nuvens. Um anônimo me recomendou rezar em espanhol por conta do Papa... Vou seguir o conselho para sacramentar logo isso.
A superlotação a partir de Sarria é uma chatice. Não quero reclamar para não parecer uma peregrina velha e rabugenta mas... poxa! Me tornei uma peregrina velha e rabugenta. Muitaaa genteee.... Grupos falando alto... fila para tudo. Até para fotografar! Coisa que também já não faço tanto. (Como seria fazer um Caminho pelas montanhas sem fotos? Ou só com uma nas chegadas das cidades? Hummmmm)
Passei por uns dois peregrinos ouvindo música sem fones de ouvido. Alto! Tá certo. Estou chata mesmo. Nos albergues, uma barulheira sem fim. Falta de respeito e consideração com quem precisa descansar.
O ponto alto do trecho, para mim, foi na última parada em Vilacha. Um bar daqueles cuidadosamente preparados para receber peregrinos... silencioso, com comidas vegetariana e preço justo. Lindo. Coloquei até como foto da capa do texto de hoje. Me lembrou o espírito peregrino que não vejo há dias. Agradeci com reverências ao proprietário.
Mas... o final se aproxima... e com ele aquela sensação de que falta alguma coisa. Tipo outro caminho! O Francês já me encantou o que tinha que encantar. Decorei as curvas... As chegadas... preciso de novas paisagens. E já estou assuntando outras rotas. E tem outras bem interessantes! Ebaaaaaaa!
E o sol brilhou poderoso! Saímos de Portomarin com muita névoa num cenário de filme. Lá pelas 9 e tantos... quase 10, o céu azul claro se mostrou. A peregrinagem toda sorria de orelha a orelha.
O trecho foi montanhoso e, por isso, fizemos várias
paradinhas estratégicas. Funciona que é uma beleza. Chegamos saltitantes à
Ventas.
A quantidade de pessoas fazendo o percurso continua aumentando. Agora a gente vê roupas novas supercoloridas, mochilinhas pequenas super estilosas e tênis limpos. E quando passam pequenos grupos, fica um rastro de desodorante e shampoo no ar. Dá uma inveja... rsrsrs
Parece uma multidão indo malhar na academia chique.
Brincaderinha! O Caminho é de todos e
cada um que o faça à sua maneira.
O que me incomoda e muito é a falta de noção dos que chegam fazendo algazarra nos albergues de peregrinos. Mesmo vendo que têm gente dormindo! Ano passado não vi isso por aqui... Na Via de la Plata é impensável esse tipo de coisa. Este trecho depois de Portomarin até Santiago está mesmo ficando impraticável. Pena.
Diminuímos bastante o passo e pudemos curtir alguns trechos
em deliciosa solidão.
As paisagens continuam um exagero de lindas. Com ou sem os peregrinos high tec coloridos barulhentos e perfumados. Ô boca!
Nha nhaaaai... Pense numa paletada boa! Pois foi. Começamos caminhando em meio às
nuvens e terminamos sob um sol de rachar mamona.
Mesmo assim chegamos muito cansadas ao albergue.
Quando a cidade é maiorzinha, 2 ou 3 km para chegar ao centro antigo onde geralmente se encontram os albergues se torna desgastante.
Quando a cidade é maiorzinha, 2 ou 3 km para chegar ao centro antigo onde geralmente se encontram os albergues se torna desgastante.
Mas, nada que a melhor Pulperia do mundo não resolva. Minhas companheiras não são chegadas ao menu do Ezequiel e comeram no albergue. Tomei banho, vesti minha melhor roupa (a outra lavei e coloquei no sol) e parti para o abraço.
Custo do jantar: Porção de polvo (para mim imensa) com vinho da casa à vontade e pão rústico=7€ Meio quilo de cerejas = 1,20€
Voltei bem feliz, cheia de vinho branco, com um saco de
cerejas para o albergue. Adoro.
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