Ela segurou o incenso nas mãos e começou a rodar pela sala,
com tamanha suavidade, que nem a brasa ousava cair para não quebrar o
encanto.
A música tocando na vitrola... “só sei vi - ver se for por vo - cêêê...”. Ela estava cantando.
Ele ficou olhando a cena, com tamanho carinho por aquela
mulher sendo menina, que soltou um suspiro.
Quem ousaria dizer agora que uma mulher com cara de sono,
pijama largo e cabelos desalinhados não era sexy?
Quem ousaria?
Só quem não tivesse uma mulher solta como aquela, feliz, leve como a fumaça que saía do incenso...
Ocupando
todos os cantos da casa, ela agora andava devagarzinho, com o incenso nas mãos,
parecia estar recitando algo.
O que será que ela estava dizendo?
Curioso, ele queria
chegar perto, mas tinha medo de quebrar o encanto, caso se aproximasse demais.
Ficou torcendo para ter algo a ver com ele, com os dois, com
os filhos e com a casa.
Gostava de pensar que, além do universo, ela guardava dentro
dela esse mundo particular, que foi construído pelos dois e estaria no altar mais alto e
venerado, no espaço inusitado chamado amor.
Ele ficou olhando ela caminhar pela casa - ou estaria flutuando? - e pensou que suas
manhãs de domingo não eram qualquer coisa.
Enquanto isso, o aroma doce foi tomando conta dos quatro
cantos do seu mundo.
Piscou duro, uma, duas, três vezes e conseguiu segurar as lágrimas antes que caíssem dos seus olhos.
Colocou as lágrimas de volta e deixou que regassem o seu coração, onde sentiu que nasciam flores e todas tinham o nome dela.
Repetiu baixinho o nome dela. A única flor do seu coração.
Se deixou florir, se deixou enfeitiçar pelo cheiro da fumaça, o ritmo e a voz da esposa.
Estava enfeitiçado.
Pensou: - Que seja!
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