A minha irmã mais nova nasceu com um problema no olho
direito, por causa de um susto que a minha mãe levou durante a gravidez.
Ela estava no 8º mês de gestação quando recebeu a notícia de
que a minha avó Zenita tinha câncer de mama.
O susto e o medo da minha mãe foram tão grandes que
superaram a barreira da placenta, correram através do cordão umbilical e
chegaram até a minha irmã.
Uma das vistas dela ficou parcialmente paralisada e quando
ela nasceu, dependendo para onde olhasse, ficava meio zarolha.
Lembro a minha mãe dizendo que, por causa desse pequeno
problema, ela não poderia pilotar avião.
Como sempre tive medo de voar de avião, recordo que a criança
egoísta que vivia dentro de mim (e ainda vive, embora domesticada) sentiu um
alívio com essa notícia.
A minha irmã mais nova nunca me disse se o problema em seus
olhos fez com que abrisse mão de algum sonho ou realização profissional, por
isso, suponho que não.
O problema na vista dela foi corrigido com uma cirurgia e
essa história, aos poucos, foi caindo no esquecimento, hoje, é assunto do
passado.
Ninguém mais fala sobre isso, talvez agora, por causa desse
texto, alguém lembre e volte a comentar.
Mas, por que estou remexendo nisso agora?
Embora isso tenha acontecida há mais de 30 anos, eu nunca
esqueci o quanto a descoberta do câncer de mama da minha avó deixou a minha mãe
apavorada.
A minha mãe é do signo de Áries. É a mulher mais corajosa,
impetuosa, otimista que eu conheço.
A lembrança de vê-la daquele jeito, desorientada, não é algo
que eu possa um dia me esquecer.
Eu era uma criança, mas já era capaz de compreender que a minha
mãe “super poderosa” estava fragilidade de uma forma que eu nunca poderia
imaginar.
A minha avó sobreviveu ao câncer e ainda está entre nós. Essa
doença tem cura e eu tenho uma prova disso, concreta, linda, loira, de 85 anos
bem vividos.
No mês de outubro, há diversas campanhas de prevenção contra
o câncer de mama. Eu sempre assisto os atores na TV com a camiseta do “Outubro
Rosa”, mas confesso que não tenho prestado muita atenção no que eles dizem.
Eu ando cansada de ouvir notícias ruins, quando chego em
casa e ligo a televisão só quero assistir programas leves e divertidos.
O escritor Machado de Assis escreveu que quando a vida
estivesse muito agitada e aborrecida e não se pudesse viver tranquilo e
satisfeito, ele procuraria um asilo para sua alma no Hospício dos Alienados.
“... irei para onde se recolhem os desconcertados, antes que
me desconcertem a mim”.
É mais ou menos o que eu tenho feito nos últimos dias. E, no
Hospício dos Alienados que eu frequento, a campanha de prevenção contra o
câncer de mama tem ficado de fora.
Por quê? Por que falar sobre isso não é agradável e dá muito
medo.
Quando tomo banho, eu sempre toco nos meus seios em busca de
algo, mas é apavorante pensar que posso encontrar um caroço.
Fico pensando que embaixo do chuveiro não é o melhor lugar
para descobrir algo que vai mudar a minha vida de uma hora para outra. E se eu
desmaiar? E se eu gritar e ninguém ouvir?
E, depois, como vou encontrar forças para me enxugar e
colocar uma roupa, agir como se tivesse saído de um banho normal, quando na
verdade a minha vida está prestes a tomar um caminho desconhecido e apavorante?
Mesmo assim, eu faço o autoexame. Com medo, mas eu faço.
Já pensei em fazer a cirurgia igual da Angelina Jolie e
substituir o seio por prótese para não ter que sentir esse tipo de medo, mas não
me convenci de que seria a solução final.
Quem me diz que essa doença não apareceria em outro lugar?
Não é possível enganar o destino, ou é?
É na tentativa de fazê-lo que muitas mulheres morrem todos
os anos por causa desta doença.
A cura do câncer de mama começa com o diagnóstico. Eu sei
disso e acho que você também já está cansada de saber.
Ultimamente, eu tenho frequentado o hospício dos alienados,
é verdade, mas não sou o tipo de louca que coloca a própria vida em risco.
Por isso, com todo medo do mundo, uma vez por ano, eu também
procuro um médico e faço os meus exames.
Quando estou na sala do médico, sempre penso porque tenho
tanto medo da morte se é a única certeza que existe.
Eu encontro resposta no amor que sinto pela minha família. Não
quero que as pessoas que me amam sintam por mim o que a minha mãe sentiu pela
minha avó. Ninguém deve sentir aquilo.
Se um dia eu for diagnosticada com essa doença - Oxalá,
Paizinho Paidiciço, Maria, Jesus, Deus e todos os anjos que me protejam -, eu ficarei
com a consciência tranquila por ter me cuidado e feito todos os exames.
Assim, só terei que culpar o destino. Acho, de fato, que ele
não vai se importar nenhum pouco com isso e conviverá com essa culpa numa boa. Eu
não.
Nenhum comentário:
Postar um comentário