quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Livro | Depois a louca sou eu, de Tati Bernardi




Eu sou fã de comédia romântica, assisti “Meu passado me codena” e acompanho o trabalho da autora, principalmente a sua coluna no Jornal Folha de São Paulo. Sempre irônica, escrachada, ela aborda os tema com uma sinceridade desconcertante, mas eu adoro.

Numa noite, estava à toa procurando por programas fúteis na TV (engana-se quem acha que assisto TV para ver programa cabeça), quando vi a Tati Bernardi dando uma entrevista para divulgar esse livro.  
Claro, que eu parei para ouvi-la e fiquei surpresa ao saber que uma pessoa capaz de fazer tanta gente rir, luta diariamente com monstros impiedosos, como crises de pânico, ansiedade extrema e fobias.  Na primeira oportunidade eu comprei o livro. Ele é bem fininho, tem uma aparência quase inofensiva, mas não se engane.
Mais uma vez a aparência esconde um universo de coisas muito mais pesadas e complexas, que começam a ser percebidas logo nas primeiras páginas quando ela descreve sobre o seu pânico de desintegrar até deixar de existir.
Ela mostra todas as suas vulnerabilidades de uma maneira tão crua e sem piedade consigo mesma, que em alguns momentos eu pensei: - Essa mulher é louca mesmo! kkk.
Mas, confesso que por diversos momentos senti um alívio ao perceber que não preciso me esforçar tanto para esconder as minhas loucuras e parecer ser normal.  
A forma como o livro foi escrito me deu a sensação de que estávamos batendo um papo. Ela escreve de forma tão rápida e fácil que parece que está falando e não escrevendo.
Numa das passagens, ela conta que decidiu escrever o livro sobre o medo, após uma turbulenta viagem de avião, quando estava indo encontrar um homem casado que tinha, naquele dia, saído de casa para ficar com ela.
“Aquele avião estava fadado ao insucesso. Programado para a queda. Precisava falar para o tiozinho voltar para a mulher porque, mesmo que agora a nossa relação fosse a mais verdadeira e infinita do universo, acabaria em poucas semanas”.
Em outro capítulo, ela conta sobre o quanto sente pavor das festas de Ano-Novo, principalmente dos fogos de artifícios que deixam tudo com cara de “festejo e obrigatório”, comparando-os com tiros de canhão no peito.
Ela explica sobre a vez que aceitou passar os seis dias de festa com o namorado e alguns casais na Praia Preta, em São Sebastião. “Coisa demais para pensar, coisa demais para lidar. Seis intermináveis dias em Marte, em carne viva, correndo o risco de travarem o meu carro, travarem a estrada, travarem a minha saída com frases como: - fica aí, doida”.
A sua relação com a mãe, os namorados, as terapias alternativas, as primeiras crises de pânico nos aeroportos, supermercados, restaurantes, reuniões de trabalho... Tati relata tudo isso e não esconde nada: as mentiras, os piores pensamentos e o vômito.
É um livro que parece ter sido escrito com o coração palpitando e com os pensamentos em ritmo alucinante.
Ela também conta a sua intimidade com o uso de remédios antidepressivo e tarja- preta.
“O que posso dizer, vendo boa parte da minha família e amigos e casos amorosos viciados em antidepressivos e tarja- preta, é que essa coisa entrou em nossas casas como novela da Globo mas nem por isso é boa, exatamente como novela da Globo”, ela explica.
Dorflex, Dramin, Efexor, Rivotril.... Tati dá uma aula de química aos avessos, do tipo: Tudo o que você não deve aprender se quiser continuar sadio. Eu quase escrevi: para continuar normal. Mas, depois pensei que normal ninguém é mesmo com ou sem remédio.
Falta de ar, taquicardia, nada parece ter ficado de fora desse livro confessional.
Apesar de tratar de temas muito delicados e até certo ponto ainda tabus, não é um livro triste. Mérito disso é da autora que não tenta se levar muito a sério.
Ela cria uma empatia com o leitor e em diversos momentos eu me peguei olhando para dentro de mim. Quando vemos alguém fazendo isso com tanta coragem, sentimos mais confiança em fazer também.
No prefácio do livro, Otávio Frias Filho, diretor de redação do jornal Folha de S. Paulo e diretor editorial do Grupo Folha, escreve que é como se a tampa da cabeça de Tati Bernardi fosse desatarraxada para que os fãs bisbilhotassem à vontade lá dentro.
Foi exatamente assim que eu me senti: bisbilhotando. E quer saber? Adorei descobrir uma escritora humana e corajosa. Se eu já a admirava, agora admiro muito mais.









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