terça-feira, 7 de agosto de 2012

A mil por hora



Ela nunca foi tão ativa, parecia mesmo que tinha rodinhas nos pés.
Só de olhar para ela, já dava uma canseira que doía os ossos. Os amigos ficavam admirados ao ver o pique da guria.
Ela tinha dispensado ajudante e cuidava sozinha dos afazeres da casa, antes de deixar o filho pequeno na escola e ir ao trabalho aonde permanecia até a noite. Ainda encontrava tempo para ir à academia.
Fazia tudo isso como se estivesse em uma competição de revezamento, dando sempre o melhor de si.

Quando chegava o fim de semana, quando a maior parte dos normais relaxa e dorme, ela continuava ligada. Com fôlego redobrado.
E o marido? Bem, alguém tinha que ficar em casa, respondia ele quando indagavam porque não acompanhava a mulher nessa acelerada rotina diária.
Mas, o fato é que os dois viviam em rotações diferentes. Ela, para evitar confusão, mas completamente insatisfeita com o passo- compasso do companheiro procurava mostrar essa falta de sintonia com atitudes.
Ela ainda não tinha percebido que poucos homens são dotados de sensibilidade capaz de ouvir as palavras que não são ditas.
Ela acelerava e, ao invés de pular nessa motocicleta em disparada, ele ficava para trás. No ponto de onde ambos tinham partido.
A distância entre os dois aumentou.
Um dia o pneu poderá furar e ela precisará descer da moto, quem sabe aí sentirá falta dele.
Perceberá que viver em alta velocidade não tem graça nenhuma se estiver sozinha na linha de chegada.
Ou, estará tão, mas tão distante que não lembrará o caminho de volta.   
Entre uma nova moto e um novo parceiro, qual dos dois ela vai escolher? 

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