Ao ler a última frase do livro, o sentimento é de
consternação. Como pude ficar tanto tempo alheia a uma situação que
levou ao genocídio de 60 mil brasileiros, mortos no maior hospício do
Brasil?
Eu que já li tantos livros sobre o extermínio dos
judeus na Alemanha, durante a 2ª Guerra Mundial, desconhecia que o
Brasil um dia já teve também o seu campo de concentração.
O livro conta, através dos relatos dos
funcionários, dos pacientes sobreviventes e de seus familiares, o horror
que passava atrás dos portões do maior hospício do Brasil, conhecido
como Colônia, na cidade mineira de Barbacena.
A maioria dos doentes era internada a força e 70%
não tinham diagnóstico de doença mental. Eram epiléticos, alcoólatras,
homossexuais, prostitutas, gente que se se tornara incômoda para alguém
com mais poder. Eram mulheres grávidas dos patrões, esposas confinadas
para que o marido pudesse viver com a amante e filhas de fazendeiros que
perderam a virgindade antes do casamento.
As pessoas entravam no hospital e desapareciam da
sociedade. Ali elas perdiam suas identidades, comiam ratos, bebiam água
de esgoto ou urina, eram espancados e violados. Alguns morriam de fome,
de frio e doença e seus corpos eram vendidos para as universidades de
medicina.
A autora conta que na época, durante algumas vezes, a situação foi trazida à tona por jornais, mas as pessoas logo se esqueciam das imagens do horror e tudo continuava igual.
Os moradores da cidade fingiam não saber o que estava acontecendo por trás dos portões do hospício, mesmo quando viam os doentes magros e tristes passando frente as suas casas carregando os corpos dos amigos mortos.
E os funcionários? Não se trata de pessoas que estavam trabalhando lá obrigadas ou ameaçadas de morte.
O livro traz à tona essa história vergonhosa do
nosso país, que ainda continua desconhecida de muitos. Mas, também,
serve como um alerta para a cegueira da sociedade diante de outras
situações de injustiças sociais.
E fica a pergunta? Até aonde vai a loucura das pessoas que se consideram donas da razão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário