Era um prédio antigo, com paredes grossas, que pareciam estar ali desde sempre, antes mesmo de eu me entender por gente.
Ele já tinha visto dramas demais e, por causa disso,
parecia imune a sentimentos pequenos, que machucam na hora, mas depois
desaparecem como fumaça.
E o que eu fazia ali?
Era isso o que eu me perguntava enquanto subia a escada
de madeira.
Subi em silêncio, ainda em dúvida sobre se devia seguir
com o meu plano.
O meu silêncio fazia um barulho intenso dentro de mim e o
rangido dos degraus de madeira, denunciando a minha presença naquela
casa só colaborava com a minha agonia.
Não podia voltar atrás, não agora que o enorme casarão
antigo já tinha sentido a minha presença.
Não poderia decepcioná-lo ou poderia?
Com o coração pesando mais do que o meu corpo inteiro
cheguei ao final da escada, virei à esquerda e cheguei a um salão amplo, com teto alto
e enormes janelas seculares.
Fiquei presa ali, parte do corpo presa ao chão e a outra
parte querendo partir.
Se neste momento, não domasse a minha alma, ela
fugiria pela janela e certamente se perderia na paisagem lá de fora.
Mas, não era para isso que tínhamos ido até ali. - Ora,
sossegue garota!
No casarão antigo, encontramos pessoas com almas leves e
desassossegadas e a minha alma logo se sentiu acompanhada.
Abrimos os nossos corações, contamos histórias e fomos
generosos com as palavras e os sorrisos.
Na volta para casa, ainda sentia o sorriso sorrir e lá
estavam eles...
Ao pé da escada, o moço velho segurava as mãos da sua
dama. Eles combinavam tanto com a casa, que eu decidi acompanhá-los com o olhar.
Eu notei que eles conversavam sobre uma maneira segura de
descer os degraus antigos de madeira, que eram muito altos e poderiam ser
perigosos.
Um tombo naquela hora seria mesmo fatal!
Ele decidiu: iriam se separar, cada um ficaria no seu
canto da parede e desceriam os degraus com os pés de ladinho.
Apesar da distância entre eles, o ritmo dos dois foi o
mesmo e chegaram juntos no final da escada.
Eu fiquei assistindo a tudo e pensei no quanto é raro, nos dias de hoje, de sentimentos líquidos, ter alguém que esteja perto na distância, seja
companheiro na descida, caminhe devagarzinho só pra fazer companhia e chegue
junto, seja qual for o destino no final da escada. Isso é o que eu chamo de amor.
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