Por Valéria Souza Ramos
Como me encontro atualmente morando na Arábia Saudita, vou começar apresentando este país. Também dividirei com prazer as histórias de minhas andanças, sempre com sutileza e flexibilidade, por Onde a Vida me Levar. Aliás, este é meu lema e também o nome do meu blog. Lá você também poderá encontrar muitas histórias dos lugares por onde andei, relatos e dicas das minhas viagens pelo mundo.
Os dias oficiais na semana e os horários das orações dos árabes, o "prayer time".
Foi preciso desenvolver uma enorme tolerância para me adaptar aos horários de oração dos muçulmanos. Para se ter uma ideia, eles fecham seus estabelecimentos comerciais 5 vezes ao dia para rezar por 20 minutos, fazendo com que muitas vezes, por exemplo, tenhamos que esperar do lado de fora do restaurante em pleno meio-dia. Também ficamos embaixo do sol de 40 graus esperando o supermercado abrir. Temos que seguir um calendário com o horário das orações para poder fazer a agenda. É preciso administrar os horários e compromissos do dia de acordo com as 5 orações para não dar com a “cara na porta” no shopping. Sim, isso já aconteceu muitas vezes comigo!
Apesar de muitas diferenças, agora já posso dizer que me sinto adaptada, mas preciso apresentar para vocês uma diferença que faz toda a "diferença". Os finais de semana aqui na Sandilândia são na sexta-feira e no sábado. Para quem não sabe, a sexta-feira é um dia especial dedicado à oração para os muçulmanos. Eu sempre gostei das sextas-feiras, mas hoje não vejo muita graça nelas, já que parecem com o nosso domingo ocidental. É um dia para o descanso e de folga no trabalho, dedicado à família. Aliás, este é um tema polêmico para as empresas da Arábia Saudita. Ter as sextas e os sábados como folga significa que há quatro dias seguidos em que as empresas da Sandilândia não ficam em contato com as empresas ocidentais.
Escrevi este post com base na minha vivência e pelos relatos de muitos artigos que li por aqui. Também pela confiança em um blog que admiro muito, de uma carioca que vive aqui no deserto há tempos e que gosta muito de escrever sobre a Arábia. Se você desejar saber mais, se aprofundar sobre o tema, viver na Arábia Saudita ou se deseja conhecer o Oriente Médio, visite o blog Carioca travelando para dar uma olhada nos posts já escritos e saber mais detalhes sobre cada assunto. Vale muito a pena!
A partir de um convite da querida e talentosa Daniela
Carvalho, escrevo com prazer este primeiro post para o blog Encantes que admiro
e que muito me encanta.
Casei há 15 anos com um engenheiro belga. Ele participa de
projetos internacionais, viajando para muitos países, o que me permite conhecer
lugares e culturas completamente diferentes da nossa.
Pouco a pouco vou tentar relatar fatos e comportamentos que
chamaram minha atenção, e dividirei com vocês as emoções do olhar de uma
caiçara percorrendo o mundo.
Como me encontro atualmente morando na Arábia Saudita, vou começar apresentando este país. Também dividirei com prazer as histórias de minhas andanças, sempre com sutileza e flexibilidade, por Onde a Vida me Levar. Aliás, este é meu lema e também o nome do meu blog. Lá você também poderá encontrar muitas histórias dos lugares por onde andei, relatos e dicas das minhas viagens pelo mundo.
Os dias oficiais na semana e os horários das orações dos árabes, o "prayer time".
Foi preciso desenvolver uma enorme tolerância para me adaptar aos horários de oração dos muçulmanos. Para se ter uma ideia, eles fecham seus estabelecimentos comerciais 5 vezes ao dia para rezar por 20 minutos, fazendo com que muitas vezes, por exemplo, tenhamos que esperar do lado de fora do restaurante em pleno meio-dia. Também ficamos embaixo do sol de 40 graus esperando o supermercado abrir. Temos que seguir um calendário com o horário das orações para poder fazer a agenda. É preciso administrar os horários e compromissos do dia de acordo com as 5 orações para não dar com a “cara na porta” no shopping. Sim, isso já aconteceu muitas vezes comigo!
Apesar de muitas diferenças, agora já posso dizer que me sinto adaptada, mas preciso apresentar para vocês uma diferença que faz toda a "diferença". Os finais de semana aqui na Sandilândia são na sexta-feira e no sábado. Para quem não sabe, a sexta-feira é um dia especial dedicado à oração para os muçulmanos. Eu sempre gostei das sextas-feiras, mas hoje não vejo muita graça nelas, já que parecem com o nosso domingo ocidental. É um dia para o descanso e de folga no trabalho, dedicado à família. Aliás, este é um tema polêmico para as empresas da Arábia Saudita. Ter as sextas e os sábados como folga significa que há quatro dias seguidos em que as empresas da Sandilândia não ficam em contato com as empresas ocidentais.
Também tenho que driblar as diferenças quando penso na
comunicação com o Brasil. Muitas vezes acordo com o maior pique de me conectar
com a família e os amigos em um domingo pela manhã, mas nem sempre é fácil
encontrá-los em casa. Domingo na minha terra é o dia de ir à praia, curtir os
amigos, fazer um churrasco e todas estas coisas boas que se fazem por lá. A
mesma coisa acontece quando minha família tenta entrar em contato conosco, na
sexta-feira ou no sábado, e não nos encontra em casa. Também somos filhos de
Deus e procuramos algo para nos divertir nestes dias. Então, na verdade, nos
restam 3 dias na semana em comum para nossos blá-blá-blás. O duro é começar a
trabalhar no domingo!
Faço uma observação interessante sobre a hora da oração. Há
uma mesquita a cada quilômetro, e sempre com alas separadas para homens e
mulheres. Nunca homens e mulheres rezam juntos. Dentro dos shoppings também há
algumas mesquitas, mas vejo poucos fiéis dentro delas nestes momentos de orações.
Muitas mulheres ficam conversando nas áreas de recreação ou apenas olhando as
vitrines, pois as lojas permanecem fechadas. Acho até que elas já devem estar
meio cansadas deste comportamento.
Outro tópico de interesse é que a Arábia Saudita é o único
país no mundo em que as mulheres ainda não podem dirigir. Além do mais, todas
as mulheres, muçulmanas ou não, devem usar a abaya, aquele vestidão preto bem
largo, que cobre completamente as pernas e os braços quando se vai à rua. Na
região onde vivo, não precisamos usar o lenço na cabeça, porém, em regiões mais
tradicionais do país o lenço também é obrigatório.
O trânsito na Arábia é muito perigoso. Pensando bem, acho até
favorável não poder dirigir aqui. Eles são loucos! Fazem de uma via pública uma
pista de Fórmula 1. Sem compaixão, respeito ou amor-próprio. Sinto calafrios
toda fez que entro em um carro. No meu caso, normalmente os carros são conduzidos
por motoristas da companhia em que meu marido trabalha. Eles são treinados para
saber conduzir no meio de tanta barbaridade, como por exemplo, não se respeitar
os semáforo e demais sinais de trânsito.
Grande parte dos motoristas contratados no país são
imigrantes que vêm de países em que as leis de trânsito são precárias ou
simplesmente inexistentes. Além do mais, é comum por aqui ver crianças entre 8
e 15 anos de idade dirigindo carros. E acredite, mesmo depois de quase 5 anos
vivendo na Arábia Saudita, me assusto (e me apavoro) cada vez que vejo essa
cena. Aparentemente as crianças são mais confiáveis no volante do que uma mulher
adulta. Os maridos saem para o trabalho e as mães acabam usando seus filhos
como motoristas para fazer compras. Coitadinhos!
Eles entendem que as mulheres têm outros afazeres
domésticos, como cuidar da casa, dos filhos e da família, e não podem "perder
tempo" dirigindo. "Já temos muita louça para lavar", dizem algumas
delas por aqui. Também argumentam que as mulheres não devem dirigir pois o véu
que cobre o seu rosto (o "niqab", aquele que deixa somente os
olhinhos de fora) dificulta que elas enxerguem a estrada e os sinais de
trânsito. Me poupe...
Volta e meia vemos movimentos de mulheres sauditas lutando pelo direito de dirigir no seu país. Há anos atrás não era possível sequer tocar nesse assunto, hoje, a passos curtos (mas são passos dados!), vemos alguns movimentos dentro e fora do país batalhando por esse direito já adquirido há décadas em outras nações. Espero que antes de ir embora daqui eu possa ver as mulheres no volante. Permitir que as mulheres dirijam não será apenas a reafirmação de um direito adquirido, mas também uma melhora na percepção que a comunidade global tem da Arábia Saudita.
Volta e meia vemos movimentos de mulheres sauditas lutando pelo direito de dirigir no seu país. Há anos atrás não era possível sequer tocar nesse assunto, hoje, a passos curtos (mas são passos dados!), vemos alguns movimentos dentro e fora do país batalhando por esse direito já adquirido há décadas em outras nações. Espero que antes de ir embora daqui eu possa ver as mulheres no volante. Permitir que as mulheres dirijam não será apenas a reafirmação de um direito adquirido, mas também uma melhora na percepção que a comunidade global tem da Arábia Saudita.
Escrevi este post com base na minha vivência e pelos relatos de muitos artigos que li por aqui. Também pela confiança em um blog que admiro muito, de uma carioca que vive aqui no deserto há tempos e que gosta muito de escrever sobre a Arábia. Se você desejar saber mais, se aprofundar sobre o tema, viver na Arábia Saudita ou se deseja conhecer o Oriente Médio, visite o blog Carioca travelando para dar uma olhada nos posts já escritos e saber mais detalhes sobre cada assunto. Vale muito a pena!
Mais algumas diferenças e informações da Sandlândia:
- · Além de não poder dirigir, as mulheres precisam pedir autorização de um homem (que pode ser, por exemplo, o pai, irmão ou marido), para viajar e trabalhar;
- · Em teoria todos os sauditas são muçulmanos. O país é o berço do Islã, onde se encontram dois lugares sagrados para religião que ficam na cidade de Meca e Medina;
- · Em 2011, o então rei Abdullah anunciou que as mulheres seriam autorizadas a votar no ano de 2015. Este ato fez com que a Arábia Saudita se tornasse a última nação do mundo a permitir que as mulheres tenham o direito ao voto;
- · Você sabia que a Arábia Saudita é o maior país do mundo sem um rio? Mais de 95% do país é um deserto ou semi-deserto. O reino possui as maiores áreas desérticas do mundo, que inclui o deserto de Al Nufd no norte e o Rub-Al Khali, no sul (também conhecido como Empty Quarter, o maior deserto contínuo no mundo);
- · O mercado de camelos na capital Riade é um dos maiores do mundo e vende cerca de 100 camelos por dia;
- · Aproximadamente 80% da força de trabalho do país é formada por estrangeiros. As autoridades locais trabalham constantemente para qualificar e atrair mais sauditas para o mercado de trabalho, termo conhecido localmente como “saudização” (saudization);
- · Na Arábia Saudita os estabelecimentos comerciais como supermercados, restaurantes e bancos, fecham completamente durante as 5 orações diárias da religião. Alguns lugares fecham as portas por 20 minutos, outros entretanto ficam fechados por um período de até 4 horas.
- · No país existe um “Comitê para a Preservação da Virtude e da Prevenção do Vício administrado pela polícia religiosa islâmica do país, conhecida como “Muttawa”. A organização regula o comportamento das pessoas nas comunidades sauditas, assegurando o cumprimento da moralidade de acordo com as normas da lei islâmica, conhecida como Sharia law;
- · Em 1962 a escravidão foi abolida na Arábia Saudita, 64 anos depois da Lei Áurea ter sido assinada no Brasil pela Princesa Isabel;
- · A Arábia Saudita é uma monarquia absoluta governada pela família Saud desde setembro de 1932;
- · Apenas muçulmanos são autorizados a ter cidadania saudita. Sim, quem não é muçulmano, precisa se converter para adquirir o direito de ser cidadão;
- · O petróleo foi descoberto na Arábia Saudita em 1938. Nessa época os Estados Unidos controlavam a produção através da empresa Californian-Arabian Standard Oil Co. Em 1944 a empresa passa então a se chamar ARAMCO (Arabian American Oil Company) e em 1988, os sauditas passam a ter total controle da companhia nacional de petróleo do país, que passou a se chamar SAUDI ARAMCO;
- · Na Arábia Saudita é proibido o culto de qualquer outra religião não islâmica. Não existem igrejas e templos de outras religiões no país;
- · Em junho de 1985, o príncipe saudita Sultan bin Salman se tornou o primeiro árabe e o primeiro muçulmano do mundo a viajar ao espaço. Ele viajou a bordo do ônibus espacial Discovery.
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