O livro “A Balada de Adam Henri”, de Ian MacEan, aborda um
tema que tem sido predominante no trabalho do autor: a defesa da racionalidade
em oposição ao fundamentalismo religioso. O tema é trazido à tona ao contar a história da juíza do
Tribunal Superior, Fiona Maye, especializada em direito da família, conhecida
pela “imparcialidade divina” e “inteligência diabólica”.
Ao completar 60 anos, a juíza está vivendo um dilema pessoal
porque se arrepende de não ter tido filho. Além disso, ela é surpreendida pelo
marido que deseja viver um caso extraconjungal com a sua aprovação.
Com a vida particular de penas para o ar, a juíza ainda
precisa se dedicar ao caso de Adam Henri, um garoto de 17 anos.
Ele sofre de leucemia e depende da transfusão de sangue para
sobreviver. Os seus familiares, contudo, são testemunhas de Jeová e resistem ao
procedimento.
Fiona argumenta a favor do bem- estar do adolescente e
repele as crenças da família que poderiam ser um obstáculo ao tratamento.
Esse não é o primeiro caso em que a juíza precisa decidir entre
a vida ou morte, por causa do conflito entre razão e religião.
Antes de Adam Henri, Fiona já tinha atuado no caso de gêmeos
siameses que nasceram com malformação e, se não fossem operados, iriam falecer.
O grande dilema entre fazer ou não a cirurgia também
esbarrava em outra decisão: após o procedimento era certo que um deles não
sobreviveria.
A família dos gêmeos também se opunha à realização da
cirurgia, dizendo que era contra seus preceitos religiosos e que só Deus pode
tirar uma vida.
Se a decisão sobre o caso dos gêmeos siameses foi difícil, o
caso de Adam Henri se mostra mais complexo e ganha novos contornos após o fim
do julgamento.
O garoto passa a se insinuar na vida da juíza, a persegui-la
e lhe dedica o poema que dá nome a esse romance: “A balada de Adam Henry”.
Será que ela vai resistir? Bem, isso eu não vou contar. Só
posso dizer que o final é surpreendente.
Desde o 11 de setembro, o autor inglês, Ian McEwan, tornou-se uma voz de ressonância
mundial contra os perigosos do obscurantismo.
Esse livro foi inspirado na conversa do autor com os seus amigos
juízes durante um jantar informal, onde ouviu sobre alguns dilemas morais e
decisões judiciais que eles enfrentavam.
Após o jantar, o autor dedicou-se ao estudo do cotidiano de
um juiz do Tribunal Superior e passou a observar que algumas sentenças se
pareciam com contos ou romances curtos.
A Balada de Adam Henri vai além dos dilemas judiciais, na
minha opinião o grande mérito do livro é exatamente o fato de mostrar que todos
somos humanos até mesmo quem, por força das circunstâncias, precisa agir como
Deus.
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