Nasci perto do mar e pra mim a felicidade sempre teve o cheiro de maresia e a sensação gostosa de caminhar sobre a areia fina da praia, sentindo o calor subindo dos pés até a cabeça.
A minha casa de infância ficava no bairro do Pontal da Cruz, uma casa simples, dois quartos pequenos, onde minhas irmãs e eu nos revezávamos entre um beliche e uma cama de pés finos e inseguros, feita de madeira de madeira.
Deste quarto, a minha maior lembrança é do quadro da banda porto-riquenha Menudo, a timba do meu pai e um armário trôpego de duas portas, onde guardávamos um pouco de tudo, bonecas, material escolar e roupas.
Na parte de trás da casa, o quintal cimentado era ocupado pelos varais repletos de roupas penduradas para secar ao sol e não havia espaço para brincadeiras.
O nosso parque de diversão era a praia, ali éramos livres e dávamos asas à imaginação.
A praia do Pontal da Cruz foi o local de um acontecimento trágico, envolvendo dois jovens apaixonados e que deu origem à Lenda do Amor.
Em cima de uma pedra grande, em homenagem aos jovens existe uma cruz e um pé de abricó, ambos estão lá desde antes de eu nascer.
Nesta pedra, formavam- se pequenas piscinas naturais e as meninas do Pontal, das casas de quintal com cimento, se transformavam ali em sereias.
Éramos as donas do mar.
Durante toda a vida, ouvi expressões que faziam referência a essa imensidão azul e sempre fizeram sentido para mim: “o mar não está para peixe”, “não adianta dar a vara é importante ensinar a pescar”, “caiu no canto da sereia”, “mar calmo não faz bom marinheiro”.
São inúmeras as expressões que eu cresci ouvindo as pessoas ao meu redor falando e eu repito sem perceber.
Quando adolescente, eu me afastei do mar e fui morar na capital, era meu sonho viver numa cidade grande. Deixei as minhas pernas de sereia e passei a caminhar sem elas.
Por muito tempo foi assim até eu voltar para minha cidade natal, ouvir o barulho das ondas e me lembrar do quanto eu era feliz quando era apenas a dona do mar.
O que pode ser melhor do que isso? Quem um dia já foi sereia, nunca deixa de ser.
Que delícia de infância,nem todos tiveram a mesma infância e juventude como você....vejo que vc é grata por tudooo 🌈❤
ResponderExcluirÉ verdade, nascer e crescer perto do mar é um privilégio, reconheço. beijos
ExcluirQuase 50? Como assimmmm?
ResponderExcluirPois é, essa que escreve tem agora 48 aninhos, bem vividos, ainda bem! kkk, beijos mil
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