Um novo amanhecer

 

Existem muitas formas de nascer, mas apenas uma forma de morrer. O nascimento representa o início de tudo, quando deixamos nossa zona de segurança para entrar num espaço totalmente novo. 

Pode ser o despertar de um novo dia, a chegada de um bebê ao mundo ou o resultado de um projeto, que demorou anos e anos para ser finalizado e colocado em prática. Cada fase nova da minha vida foi como um nascimento.

E, entre tantas fases que passei nos meus quase 50 anos, já nasci de partos normais, que me deixaram apenas um pouco dolorida, outras vezes enfrentei partos de cócoras e achei que fosse morrer.

Eu fui uma menina amarela, surfista decadente, modelo fora do peso, atriz anônima, empresária falida, mãe ocupada, jornalista desempregada, funcionária pública inconformada, blogueira envergonhada, escritora (com os leitores mais gentis do mundo) e, durante a pandemia, me descobri cozinheira.

A cada nascimento de uma nova fase, eu precisei deixar o passado para trás, encerrar ciclos e seguir em frente.

Não consigo contar quantas vezes eu lutei contra o destino para manter as coisas exatamente do jeito que estavam por medo ou apego às pessoas e as coisas que teria que deixar para trás. 

Ninguém pode controlar o destino, assim como não existe nascimento sem dor.

Há uma frase da escritora Cora Coralina muito conhecida que diz: Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar, porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir.

Nascer para uma nova vida, seguindo os desejos do meu coração, tem sido a minha decisão até aqui e, por causa disso, aceito todas as dores e amores que me cabem. 

Quando eu deixar de fazer isso, terei morrido, mesmo que os meus olhos continuem abertos.